Na década de 1970, a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) iniciou uma política de inclusão étnica, com o intuito de diversificar seu quadro de alunos. Nesse contexto, estudantes afro-americanos ingressaram no curso de cinema, onde produziram filmes inovadores, que questionavam a indústria de Hollywood, trazendo as narrativas negras para o centro da cena. Este amplo conjunto foi designado pela crítica, posteriormente, como L.A. Rebellion. Parte dessa produção pode ser assistida na mostra que o IMS Paulista recebe a partir desta terça-feira (19).
A seleção, que fica em cartaz até 23 de fevereiro, reunirá 14 títulos, produzidos principalmente entre as décadas de 1970 e 1980. São curtas, médias e longas exibidos em cópias em formatos digitais ou em 16 mm, cedidas pelo arquivo da UCLA. A curadoria da mostra é de Luís Fernando Moura, pesquisador e programador de cinema, e de Victor Guimarães, crítico, curador e professor.
A programação inclui debates e apresentações de críticos e pesquisadores. Entre os destaques, está o debate, no dia 23 de fevereiro às 18h, com o crítico Heitor Augusto, a jornalista Mariana Queen Nwabasili e mediação do curador Victor Guimarães. Eles conversarão sobre os diálogos entre as obras da L.A. Rebellion e o cinema contemporâneo.
A mostra exibida no IMS inclui títulos de nomes célebres, como Charles Burnett (vencedor de um Oscar honorário em 2018) e Julie Dash (primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem estreado comercialmente nos EUA), além de outros menos conhecidos, como Zeinabu irene Davis, Alile Sharon Larkin, Haile Gerima, Larry Clark e Billy Woodberry. Compromissados com um projeto de cinema autônomo, eles construíram suas obras na UCLA, em um contexto ainda marcado pelas tensões das lutas pelos direitos civis.
Segundo os curadores, os diretores buscavam novas formas de representação, produzindo um cinema que fosse voltado para o público negro. “Contra o que, exatamente, eles se rebelavam? Em primeiro lugar, contra o quase século de imagens que os precedia, esse espelho embaçado de Hollywood em que, na maioria esmagadora do tempo, negros e negras não podiam se reconhecer. Era preciso inaugurar um outro ambiente cinematográfico, próximo às sensibilidades e aos desejos que surgiam das comunidades afro-americanas”.
Realizados sempre com orçamentos mínimos, os filmes eram produzidos de forma colaborativa. O cineasta Charles Burnett, por exemplo, atuou como roteirista, fotógrafo e operador de câmera em várias obras dos seus colegas. “Os créditos dos filmes revelam como essa produção era oriunda de um fazer em comunidade, no sentido mais simples e poderoso da palavra”, reiteram os curadores.
Ainda que com tramas e estilos distintos, os diretores tocavam em pontos em comum, como a busca de uma identidade negra autônoma, presente em Diário de uma freira africana (1977), de Julie Dash, ou Seus filhos voltam pra você (1979), de Alile Sharon Larkin; a crônica do cotidiano no gueto, retratado em Bush Mama (1979), de Haile Gerima; ou ainda a referência aojazz norte-americano, em Dando um rolê (1977), de Larry Clark. Em suas obras, eles também dialogavam com os cinemas modernos produzidos na África e na América Latina, em busca de um novo olhar que se opusesse aos modelos coloniais.
No conjunto de filmes que compõe a L.A. Rebellion, também se destaca a produção das cineastas, cujas obras questionavam os estereótipos associados à figura da mulher negra. EmMulher africana, EUA (1980), por exemplo, a diretora Omah Diegu se inspira em sua própria trajetória para contar a história de uma imigrante nigeriana que luta para sustentar sua filha. A diretora Zeinabu irene Davis, por sua vez, constrói uma reflexão sobre o corpo feminino no curta Ciclos (1989).
Esta seleção evidencia trabalhos que, ainda que pouco conhecidos pelo público, se tornaram uma grande referência para a produção contemporânea. “Poucas vezes na história existiu, até nossos dias, um conjunto tão vigoroso de filmes feitos de preto para preto, de preta para preta, e que se afirmassem com tamanhas altivez e independência. Os filmes dessa geração jovem e talentosa representam um tesouro dos mais valiosos para o presente e o futuro do cinema”, afirmam os curadores.
Serviço
Mostra L.A. Rebellion
19 a 23 de fevereiro
IMS Paulista
Avenida Paulista, 2424
São Paulo, SP, Brasil
11 2842 9120
Ingressos: R$8 (inteira) e R$4 (meia)
Programação (sujeita a eventuais alterações)
19 de fevereiro
19h30
Bush Mama
Haile Gerima
EUA | 1979, 97′, 16 mm
Sessão seguida de fala dos curadores Luís Fernando Moura e Victor Guimarães
20 de fevereiro
19h30
Abençoes seus pequeninos corações
Billy Woodberry
EUA | 1983, 80’, DCP
Após a sessão, haverá uma fala com Mariana Shellard e Aaron Cutler
21 de fevereiro
19h30 – Exibição de curtas*
Diário de uma freira africana
Julie Dash
EUA | 1977, 15′, digital
Mulher africana, EUA
Omah Diegu [Ijeoma Iloputaife]
EUA | 1980, 20′, digital
Filha da resistência
Haile Gerima
EUA | 1972, 36′, 16 mm
* Os três curtas serão exibidos na mesma sessão
21h
Bem-vindo de volta, irmão Charles
Jamaa Fanaka
EUA | 1975, 91′, DCP
Sessão seguida de fala do crítico Heitor Augusto
22 de fevereiro
19h30 – Exibição de curtas*
Um bocado de amigos
Charles Burnett
EUA | 1969, 22′, DCP
Ilusões
Julie Dash
EUA | 1982, 36′, DCP
* Os dois curtas serão exibidos na mesma sessão
21h
Uma imagem diferente
Alile Sharon Larkin
EUA | 1982, 52′, 16 mm
Sessão seguida de fala da jornalista Mariana Queen Nwabasili
23 de fevereiro
16h – Exibição de curtas*
O cavalo
Charles Burnett
EUA | 1973, 14′, DCP
Ciclos
Zeinabu irene Davis
EUA | 1989, 17′, digital
A bolsa
Billy Woodberry
EUA | 1980, 13’, DCP
Seus filhos voltam pra você
Alile Sharon Larkin
EUA | 1979, 27′, 16 mm
*Os quatro curtas serão exibidos na mesma sessão.
18h – Debate L.A. Rebellion, passado e presente
Conversa com Heitor Augusto, Mariana Queen Nwabasili e mediação de Victor Guimarães
O debate tem entrada gratuita, com distribuição de senhas 1 hora antes e limite de 1 ingresso por pessoa
20h30
Dando um rolê
Larry Clark
EUA | 1977, 105′, DCP
Sessão seguida de fala de Victor Guimarães
Ingressos no IMS Paulista
R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, portadores de deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.
Cliente Itaú
Desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.
Os ingressos do cinema são vendidos na bilheteria do centro cultural para sessões do mesmo dia e no site ingresso.com.
Devolução de ingressos
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