A Avenida Paulista é a via mais importante e simbólica da cidade de São Paulo. Milhares de pessoas circulam por ali todos os dias, entre sedes de empresas, bancos, consulados, hotéis, hospitais, shoppings e instituições culturais, como o Masp e o Sesc Avenida Paulista.
Segundo levantamento da imobiliária MBRAS, o preço do metro quadrado ali é de R$ 40 mil, um dos mais altos do Brasil. Em um local tão cobiçado e movimentado, um único endereço, no número 1.919, está completamente fechado e aparenta sinais alarmantes de abandono. É o palacete Franco de Mello, também conhecido como residência Joaquim Franco de Mello.
O imóvel foi erguido em 1905, como a luxuosa casa da família de mesmo sobrenome. São 35 cômodos distribuídos em 600 m², ocupando um terreno de 4.720 m², com uma grande área verde. Na época da construção, membros da alta sociedade paulistana, formada por barões do café, donos de grandes indústrias e ricos comerciantes, haviam elegido a nova Avenida Paulista como endereço para suas mansões.
Mais de um século depois, os casarões foram derrubados, dando lugar a grandes prédios. Restaram apenas três, todos tombados: a Casa das Rosas, que se tornou um centro cultural; o casarão onde funciona o restaurante de fast food Méqui 1000; e o palacete Franco de Mello, abandonado, parecendo uma casa mal-assombrada de filme de terror.
Mas como e por que um edifício tão representativo, em um local tão badalado, acaba desocupado, em estado deplorável? A seguir, conheça mais sobre a arquitetura, a história e o atual estado da casa abandonada na principal avenida do Brasil.
Apesar da riqueza estética, na verdade, o palacete não foi projeto de um arquiteto. Ele é obra do construtor português Antônio Fernandes Pinto. Seu estilo é eclético, misturando influências de diversas épocas e países, o que já fazia o imóvel se destacar entre os outros da Avenida Paulista mesmo no início do século 20.
A fachada tem inspiração na arquitetura europeia da época de Luís 15. Já as torres são mouriscas; os capitéis e frontões são provençais; o telhado, com mansarda, possui detalhes renascentistas; as telhas são francesas e de torreão; as janelas possuem ornamentação rococó no frontão curvo e nos caixilhos. Os interiores eram ricos em móveis coloniais, como um banco de jacarandá do século 18. Papéis de parede e até pinturas em afresco decoravam as paredes com opulência.
O piso é de madeira serrada, de uma época em que se popularizava, entre os mais ricos, o uso de assoalhos encerados. O casarão foi um dos primeiros do Brasil a ter encanamento de água corrente nos banheiros. Outra novidade do período eram as venezianas nas janelas. Tanto pela mistura única de estilos da arquitetura, quanto por representar novidades modernas das primeiras casas do século 20, o palacete foi tombado em 1992 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
O projeto foi idealizado como lar do coronel Joaquim Franco de Mello, um rico agricultor, e sua família: a mulher Lavínia e os filhos Raul e Raphael, médicos, e Rubens, advogado. Eles tiveram filhos e netos e a família foi crescendo ao longo dos anos. O imóvel acabou se tornando propriedade de Rubens Franco de Mello. Em 1992, quando ocorreu o tombamento, Rubens recorreu na justiça, entrando numa desgastante batalha judicial que se desenrolou por mais de 20 anos. Foram muitas idas e vindas do processo e, ao longo desse período, o palacete começou a se deteriorar, sem manutenção e restauração.