A futura construção de um túnel na rua São Carlos do Pinhal em benefício a um empreendimento imobiliário fez com que duas associações de moradores da região da Avenida Paulista entrassem na Justiça pedindo a paralisação da obra.
Um um trecho de 100 metros da rua sumiria para permitir a criação de um boulevard ligando a Avenida Paulista ao futuro complexo de luxo Cidade Matarazzo.
A obra é orçada em cerca de R$ 2 bilhões, o terreno do antigo Hospital Humberto I, de cerca de 30 mil m², será ocupado futuramente por um shopping center, um hotel e imóveis comerciais e residenciais.
O projeto ainda inclui uma torre de 22 andares do arquiteto francês Jean Nouvel, ganhador do Pritzker de 2008.
A capela de Santa Luzia, de 1922, está sendo restaurada e será reaberta ao público como parte do projeto.
O túnel tem um valor de cerca de R$ 130 milhões, passando entre as alamedas Rio Claro e a rua Itapeva. A construção foi aprovada em setembro pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB).
O túnel será pago pela Associação São Paulo Capital da Diversidade, entidade criada pelo empresário Alexandre Allard, do grupo Allard, responsável pelo complexo Cidade Matarazzo.
As associações Amacon – Associação dos Moradores da Consolação e adjacências, e a Amorbela – Bela Vista e Bexiga declaram que o túnel é um presente de grego, que favorecerá apenas o empreendimento privado, e prejudicará os imóveis e moradores da região.
Com a nova obra a alameda Rio Claro passará a ser uma rua sem saída.
Abaixo confira trecho da reportagem da Folhapress sobre o assunto:
A reportagem procurou a gestão Bruno Covas para tratar do túnel, previsto para ser entregue em 2022, e do parecer da CET. Em nota, a assessoria de imprensa limitou-se a dizer que a “proposta passou por intensa e transparente análise de todos os órgãos e departamentos competentes”.
Disse também que todo procedimento seguiu rigorosamente a lei e que a prefeitura concluiu haver interesse público. Não fez qualquer comentário sobre o parecer contrário da CET.
O Grupo Allard, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que a CET mudou seu entendimento após alterações no projeto. “Uma série de solicitações de caráter geométrico e dimensional foram exigidos pelo órgão público, resultando em adequações no projeto da passagem inferior.”
A empresa diz também, em nota encaminhada pela assessoria de imprensa, que “uma série de estudos foram realizados, principalmente do ponto de vista construtivo, para garantir a manutenção da faixa carroçável durante as obras.”
Um documento assinado pela diretora de planejamento da CET, Elisabete França, encaminhado ao jornal, atesta que as alterações realizadas “atenderam às exigências”.
As associações de moradores, contudo, dizem que solicitaram à CET os estudos que a levaram a mudar seu entendimento a fim de verificar se todas as restrições haviam sido, de fato, sanadas, mas que não obtiveram sucesso.
Na ação, as associações de moradores reclamam também do edital de chamamento público lançado pela prefeitura para a viabilização do projeto. “Não deu margem a outras propostas, com outras soluções urbanísticas”, afirma.
“Foi direcionado para a realização de uma obra preconcebida, pré-aprovada, cuja possibilidade de participação seria tão somente da própria associação gerida pelos diretores do empreendimento”, dizem.
O Grupo Allard afirma que a alegação não faz o menor sentido. “A associação informou a prefeitura que vinha estudando esse projeto havia alguns anos e que tinha interesse em implantá-lo”, diz.
“O chamamento público possibilitou que eventuais interessados apresentassem outras propostas para a transformação urbana”, afirma.
O juiz Evandro Carlos de Oliveira, da 7ª Vara da Fazenda Pública, ainda não analisou o pedido de liminar feito pelas entidades para suspender o projeto. Aguarda a manifestação da prefeitura sobre o assunto, que tem 30 dias para responder.
Com informações de Folhapress.
Imagem de Adriana Macedo.